29 de set. de 2023

Como manter o amor no Casamento


Essa semana, ao participar de um chá de panela surpresa fizemos uma brincadeira muito interessante: escrever conselhos para o casal que logo estará se unindo. Esse momento de brincadeira me fez lembrar do percurso de 15 anos em que estou casada com o Alexandre, e dos conselhos que já recebemos: daqueles que realmente fizeram diferença, daqueles que foram inúteis ou até mesmo prejudiciais. Nem todos os conselhos que recebemos são bons para nós, mas precisamos sempre ter em mente que quem os emite, o faz por carinho, consideração, e por acreditar que pode ajudar (seja por ter sido útil em sua própria vida, vindo de algum arrependimento ou mágoa vivida, ou por acreditar que pode ser bom). Em muitos casos um excelente conselho para um determinado casal, pode ser inadequado para outro, e por quê isso acontece? Simples: porque somos todos diferentes, únicos, e formamos relacionamentos muito específicos, com necessidades muito particulares.

Conselhos muito comuns para casais: "nunca durmam em camas separadas", "não vão para a cama brigados", "use lingeries sexy", "abra a porta para ela", "sempre se despeçam com um beijo", "não usem palavras duras um com o outro", "façam tudo juntos", "sempre dê razão para sua esposa, mesmo que ela esteja errada", "viagens são boas para o casal superar problemas", "filhos fortalecem o casamento", "faça um jantar romântico surpresa", "mantenham contas conjuntas", "não more tão longe que venham de malas, e nem tão perto que venham de chinelos" (sobre parentes), etc... Aparentemente todos são conselhos bons, mas dependem muito da situação e das pessoas envolvidas, bem como das preferências e sentimentos delas. Muitos desses conselhos podem gerar ainda mais frustração dependendo da situação, como o de usar lingeries sexy - a mulher pode investir tempo, dinheiro e expectativas nesse conselho, e ficar desapontada ao vestir um conjunto especial para agradar ao marido, mas no entanto encontrar um marido frio e distante (por diversos motivos que não tem nada a ver com a lingerie, que pode nem ter sido notada). Viagens são ótimas, e ajudam muito a criar lembranças boas para o casal, mas não são mágicas o suficiente para fazer os problemas de relacionamento se resolverem. Ter filhos é com certeza uma bênção, mas não é responsabilidade das crianças manter um casal unido, aliás, está mais que provado que crianças não possuem esse poder mágico. Nesse momento você já deve estar questionando: "então não devo ouvir conselhos de ninguém?", "para que as pessoas dão esses conselhos se são furados?", "mas alguns desses conselhos eu já usei (ou uso) e funcionam bem para mim!" - lembre que esses conselhos são fruto de experiência e carinho que as pessoas tem por você! Ouça-os com atenção, teste se estiver confortável com isso e veja na prática os que funcionam, como funcionam e quando funcionam para você. 

Existe, no entanto, um conselho em particular que gosto de compartilhar, mas que não é tão simples, e nem tão complicado: A parte mais importante num relacionamento é a comunicação, com uma boa comunicação um casamento perdura e prospera, mas quando a comunicação não é valorizada o suficiente, os silêncios e mal entendidos envenenam e apodrecem o relacionamento.

Muitas pessoas se queixam que "o amor acabou", mas quando pergunto sobre o que é o amor para elas, costumam sempre definir como um sentimento, algo abstrato como o bem querer, carinho, desejo, etc. Esses sentimentos não são a essência do amor, eles são frutos da construção do amor. Mas o que é o amor então? Não se trata de um sentimento como gostar simplesmente, até mesmo porque gostamos de muitas coisas, mas não as amamos apenas porque gostamos delas. O amor é um constructo complexo, fruto de um conhecimento profundo sobre o outro, que desperta admiração, respeito, carinho e todos os outros sentimentos relacionados ao que chamamos de amor. Quando estamos namorando, nós nos dedicamos profundamente a conhecer o outro, saber tudo sobre a vida e a mente da outra pessoa, na mesma medida em que nos abrimos e compartilhamos tudo de nós mesmos com essa pessoa. No entanto com o tempo, a convivência pode ir mudando, e os casais começam a se afastar, não mais compartilhando seus pensamentos, sentimentos e experiências na mesma intensidade - seja pelas obrigações e cansaço do dia a dia, ou pelo fruto de desentendimentos mal resolvidos que vão se acumulando. Com esse distanciamento acontecendo gradativamente, um casal que antes se conhecia profundamente começa a não ser mais capaz de reconhecer a pessoa amada em seu parceiro, e com isso começam a ter a sensação de que "o amor esfriou", ou mesmo que "o amor acabou". Já ouvi até mesmo pessoas dizendo que "é normal a vida sexual esfriar no casamento", e que as pessoas precisam "se conformar" com isso. O que acontece é que o distanciamento afetivo impacta diretamente em todas as áreas do relacionamento: sexo, respeito, carinho, cumplicidade, tudo! E diferentemente do que se ouve por aí, de que isso é "normal", o que posso dizer é que NÃO! Não é preciso se conformar com isso, ou acreditar que todos os relacionamentos estão fadados a isso, muito menos começar a pensar em desistir do relacionamento atual para ir buscar satisfação em algo novo - é possível resgatar o amor entre um casal, e a principal ferramenta não é o sexo, não é uma viagem, nem bebês. O principal recurso para resgatar, e manter o amor entre um casal é a comunicação! Tão simples né, mas também tão complicado, como se houvessem muros e barreiras entre pessoas que antes eram livros abertos um para o outro. Complicado sim, mas não impossível! Por isso vou compartilhar o conselho que escrevi no chá de panela:

Valorizem a comunicação no casamento, uma boa comunicação fará com que prosperem e envelheçam unidos, mas uma má comunicação provocará silêncios e mal entendidos que irão envenenar e corroer o relacionamento de vocês. 

Lembrem de evitar supor que já sabem tudo um sobre o outro, e procurem sempre ouvir antes de falar. Casamento não é um tribunal de justiça onde se julga quem está certo ou errado, muito menos um ringue de lutas onde um sairá vencedor - quando casais brigam o resultado sempre será o mesmo: os dois perdem, de uma forma ou de outra. Portanto todos os dias escolham ser felizes ao invés de ter a razão (não dá para ter os dois, sinto  muito), e escolham com muita sabedoria suas disputas, pensem profundamente se realmente vale a pena se indispor por algo, ao invés de procurar uma abordagem mais comunicativa, com ambos cedendo em algo. 

Conversem muito, sempre, sobre tudo! Falem sobre como se sentem, pois esconder sentimentos e pensamentos para poupar a outra pessoa de um sofrimento não é expressão de amor, é subestimar a capacidade da outra pessoa em te compreender. Escute seu parceiro sem julgamento, pois julgamentos costumam ser a porta de entrada dos silêncios e mal entendidos, e sempre leve os sentimentos de seu parceiro em consideração.

Brigas e desentendimentos vão acontecer, principalmente nos primeiros anos de casamento, espere por elas com aceitação, valorizando o aprendizado e crescimento que poderão ter com isso ao longo da vida juntos. Saibam que todas as brigas podem ser resolvidas, mas sem pressa, quando os ânimos se acalmarem, ambos pensarem melhor no assunto, e conversarem com sinceridade sobre o assunto. Muitas vezes podem ser necessárias várias conversas, pois cada um vai absorvendo as novas informações e analisando a situação a seu tempo, apressar o processo, ou esquecer porque é difícil não ajuda nenhum dos dois.

Como todo conselho: analise como se sente quanto a isso, experimente com cuidado e aos poucos vá vendo como funciona para o seu caso. Caso o seu relacionamento esteja com muitas dificuldades, você pode sentir que a sua vida sexual está insatisfatória, que os sentimentos entre vocês está esfriando, pode sentir que está falando mas a outra pessoa não te escuta, ou talvez você até já tenha desistido de falar há algum tempo, busque a ajuda de uma profissional da psicologia para te auxiliar nesse processo. Existem muitas técnicas voltadas à casais para melhorar a capacidade de comunicação, a expressão de sentimentos, o desenvolvimento de habilidades de solução de problemas, o desenvolvimento de uma sexualidade plena para ambos, entre diversas outras questões que podem melhorar no seu relacionamento com uma ajuda profissional adequada.

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18 de jul. de 2023

QUEM PRECISA FAZER TERAPIA?

 


    É comum ouvirmos: "Fazer terapia é para malucos, como não sou louco não preciso disso!". Será que essa afirmativa é verdadeira? As pessoas normalmente dizem isso quando desconhecem o que é terapia, ou quando querem evitar confrontar seus próprios problemas.
    A OMS define a saúde como "bem estar bio-psico-social", ou seja, a saúde não é apenas a ausência de doenças somáticas (no corpo), mas a expressão do bem estar integral na vida das pessoas, incluindo o seu funcionamento emocional, cognitivo, social, familiar e profissional.
    A psicologia é um campo científico que atua em diversos segmentos (esporte, trânsito, jurídica, hospitalar, recursos humanos, etc), sendo que a clínica é uma modalidade de tratamento da saúde mental. O psicólogo clínico é um estudioso da mente humana, que está habilitado a avaliar e tratar as perturbações e transtornos da mente do homem (em todas as esferas da vida: social, familiar, profissional, comportamental, emotiva, cognitiva, etc.), sendo assim, sua atuação está ligada ao tratamento e à avaliação dos transtornos do humor (depressão, ansiedade, humor bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo), dos transtornos de personalidade (paranóide, esquizóide, esquizoafetivo, boderline, hebefrênico, etc...), dos transtornos do comportamento (desafiador opositivo, transtorno de conduta, sociopatia, etc.), dos transtornos de aprendizagem (hiperatividade, desatenção, etc.), e de diversas perturbações da saúde mental.
    As pessoas nem sempre conseguem reconhecer que apresentam sintomas de uma determinada classificação psicopatológica, e por isso não conseguem perceber seu sofrimento e sua dor como algo que possa ser tratado por um psicólogo. Mas todos são capazes de perceber que tem dificuldades, as quais não conseguem superar sozinhos, por mais que se esforcem para isso.
Uma pessoa que está sofrendo com Transtorno de Ansiedade não consegue nomear seu sofrimento dessa maneira, mas é capaz de perceber que tem tido algumas dificuldades em seu funcionamento cotidiano, que tem o prejudicado em alguma àrea de sua vida, seja ela familiar, social, profissional, afetiva, comportamental ou cognitiva.
    Para uma pessoa saber quando necessita da ajuda de um psicólogo, precisa analisar como tem se relacionado com o mundo, com as pessoas, e consigo mesma. Se em alguma dessas àreas, acredita estar tendo um desempenho insatisfatório, e que apesar de se esforçar não consegue promover melhoria real, então este é o ponto onde sua saúde mental começa a se abalar. Esse mal estar psíquico tende a crescer com o tempo, e começa a tomar outras partes de sua vida que antes não incomodava. Dessa maneira, o problema que inicialmente se tratava de um transtorno leve, transforma-se em um complexo de proporções graves. Um transtorno mental grave não surge da noite para o dia, mas é construído através de um aprendizado disfuncional do cérebro ao longo de anos de negligência da pessoa com sua saúde e bem estar mental.
    Uma pessoa é capaz de perceber se está sempre preocupada, se não consegue relaxar, se enquanto todos conseguem lidar com as expectativas do dia a dia ela é incapazes de dormir ou se concentrar em outras coisas, por vezes sente falta de ar, palpitações, experimenta sudorese (suor em excesso), fica ruborizada, tem prisão de ventre, sofre de disfunção erétil, apresenta baixa auto-estima, ciúmes excessivo, tristeza prologada sem motivo suficiente que explique tal condição, experimenta desmotivação, perde a capacidade de sentir prazer, concentrar, apresenta dificuldades com a memória, tem tido muitas dificuldades em conviver bem com sua família, tem tido problemas com o cônjuge, dificuldades em lidar com os filhos, sente-se profundamente insatisfeita consigo mesma, é incapaz de dizer não às pessoas, não consegue economizar, come para preencher um vazio emocional, não tem controle sobre seu comportamento sexual, trabalha compulsivamente, joga compulsivamente, etc...
    Todas essas coisas, apesar de parecerem simples, são sinais de que a saúde psíquica está em apuros. A mente humana é como um iceberg, o que podemos perceber é apenas sua pequena ponta. A pessoa deve alertar-se quando algo a incomoda ou incomoda a todos à sua volta, não é preciso esperar apresentar dois, cinco ou dez problemas e perceberem suas vidas como um problema sem solução.
    Ao perceber que algo em sua vida não vai bem, a pessoa precisa tentar superar com seus intrumentos psíquicos adquiridos ao longo da vida, se o problema não for solucionado em menos de dois meses, então é o momento de buscar a ajuda de um psicólogo. Entretanto, quando a pessoa vai ao médico e este encaminha para o serviço de psicologia, é porque o momento de tentar com seus próprios recursos já passou, e a ajuda profissional é imprescindível.

Carolina Rezende

A DIFERENÇA ENTRE TRISTEZA E DEPRESSÃO

 

    É muito comum ouvirmos as pessoas dizerem “me sinto deprimido hoje”, sem que de fato estejam deprimidas. Muitas vezes essa expressão reflete apenas uma tristeza temporária. A depressão é um transtorno psiquiátrico grave, faz com que a capacidade de percepção da realidade seja distorcida, muito diferente da tristeza, que é um sentimento humano normal e não compromete a capacidade de raciocínio. A seguir algumas diferenças entre depressão e tristeza:

Depressão é um transtorno do humor grave, faz com que a capacidade de perceber a realidade e fazer julgamentos fique distorcida.


Tristeza é um sentimento humano normal e saudável, é a resposta emocional correta à frustração, decepção, perda ou fracasso. Não compromete a capacidade de raciocínio e desempenho cognitivo normal.


Depressão é uma doença com sintomas físicos e psíquicos bastante claros e intensos, que independem de um motivo aparente ou que é desproporcional e anormalmente duradouros para o evento desencadeador.


Tristeza diminui com o tempo, retornando apenas quando sua motivação é relembrada.


Depressão pode surgir após uma perda ou situação desagradável, mas comumente não está associada a um evento que a justifique. Mesmo nos casos em que está relacionada a fatores precipitantes, a intensidade e a duração são desproporcionais à magnitude do estímulo. Muitas vezes em um primeiro episódio é possível identificar um evento desencadeador, mas nos demais episódios esse motivo desaparece e a depressão segue um curso próprio e independente dos fatores externos.


Tristeza ocorre em resposta a estímulos desfavoráveis do ambiente. É uma reação vital natural, normal e adaptativa, característica das situações de perda.


Tristeza permite que as pessoas percebam situações positivas ou notícias favoráveis e se alegrem com isso.


Depressão faz com que mesmo os acontecimentos positivos sejam percebidos como negativos.


Tristeza tem duração limitada e melhora com o tempo.


Depressão pode durar meses, anos, ou até a vida inteira.


Tristeza é facilmente compreensível, por ocorrer em resposta a uma situação claramente identificada.


Depressão muitas vezes atinge pessoas sem problemas, em alguns casos até em situação invejável.


Tristeza não faz sentir vontade de suicidar.


Depressão pode levar ao suicídio. Estima-se que 15% dos deprimidos graves cometem suicídio.


Tristeza é controlável com alguma força de vontade. As pessoas tristes geralmente buscam situações e companhias que as alegrem.


Depressão faz com que as pessoas sintam-se sem forças para buscar estímulos prazerosos, e quando percebem sua incapacidade de alegrar-se, reagem com irritabilidade e aumento da sensação de mal-estar.


    É comum que familiares e amigos tentem exortar o paciente a fazer algo para animar-se. Tal iniciativa é sem dúvida, meritória, porém pode produzir consequencias funestas. Um exemplo frequente é o do deprimido que é obrigado a comparecer a uma festa de família e não consegue se divertir. Além da irritação pela incapacidade de usufruir a situação prazerosa, as pessoas com depressão podem sentir-se culpadas numa situação como essa por “estragar a festa”. A dica é: deixem em aberto, convidem mas não obriguem, deixem que a pessoa decida se deve ir ou não.


Extraídos do livro “Questões Atuais sobre DEPRESSÃO” de Antônio Egídio Nardi.


Carolina Rezende

COMO FAMILIARES E AMIGOS PODEM AJUDAR UMA PESSOA DEPRIMIDA

 


O apoio familiar ao paciente com depressão representa 60% a mais de chances da pessoa vencer a depressão. Entretanto a maioria das pessoas não sabem o que é a depressão, nem como ajudar, e acabam usando os recursos que tem, sem buscar ajuda para saber como ajudar!

Isso mesmo, receber ajuda para poder ajudar!


A depressão é um transtorno do humor grave, com prevalência média de 14,6% entre a população (fonte: ONU, 2012). No entanto o desconhecimento sobre essa doença, bem como os preconceitos à ela associados, dificultam o diagnóstico precoce e o tratamento eficaz, o que provoca a piora dos sintomas dificultando ainda mais o tratamento, e prolongando o sofrimento das pessoas.

As famílias que tem um membro portador de depressão, podem desempenhar um papel fundamental na vida desse indivíduo, auxiliando na melhora dos sintomas da doença. Mas para poder ajudar é preciso repensar muitos conhecimentos e preconceitos.

É importante que não se negue a existência da depressão, não desestimule a pessoa a fazer o tratamento, nem desmereça o que a pessoa sente. Depressão é uma doença grave e sem cura, que pode levar ao suicídio, sendo essa a oitava causa de morte entre os adultos. Esse transtorno não pode ser controlado apenas com a "força do pensamento" nem com o trabalho exaustivo, assim como a hipertensão e a diabetes, que também são doenças graves e sem cura, cujas causas ainda são desconhecidas, tal qual a depressão. Ou por algum acaso, alguém já foi curado de hipertensão com o pensamento positivo, ou com o trabalho exaustivo?

Assim como no caso da diabetes, da hipertensão e de outras doenças do gênero, a pessoa com depressão pode conquistar uma qualidade de vida e bem estar caso siga corretamente o tratamento psicoterapêutico e medicamentoso (é importantíssimo realizar os dois, pois um sem o outro seria como o diabético que usa a insulina mas não faz dieta). Nesse contexto é que o papel da família é primordial, pois a atitude compreensiva, incentivadora e realista, irão diferenciar exponencialmente os resultados positivos do tratamento. É uma atuação delicada, pois o limiar entre o correto a se fazer e o errado é bem difícil de distinguir num primeiro momento, mas com boa orientação é possível se sairem muito bem! É preciso acolher e compreender, sem ceder e aceitar às demandas negativas e restritivas da depressão, para isso a família irá precisar de muita ajuda, para saber como agir. Em primeiro lugar é preciso conversar com os profissionais que estão trabalhando com seu familiar. O médico poderá lhe ajudar explicando as reações esperadas da medicação, e quais aspectos é preciso observar em casa, quando pedir ajuda, etc. Ter uma conversa franca e aberta com a psicóloga, sobre como tem se sentido, suas expectativas e frustrações em relação à pessoa, também ajudará muito pois ela poderá lhe explicar um pouco mais sobre a depressão, alguns comportamentos que podem ajudar o relacionamento familiar no dia a dia, e ainda indicar bons livros para que vocês leiam e entendam melhor o que ocorre dentro de sua família. É essencial que todos APRENDAM sobre a depressão, pois apesar do muito que se fala quase nada é verdade, e isso atrapalha e frustra todos os envolvidos. Na hora de buscar conhecimentos, é importante que se use fontes confiáveis, bons livros (normalmente os recomendados pelo médico e pela psicóloga são mais confiáveis em seu conteúdo, bem como específicos ao que tem enfrentado), os sites precisam ser de fontes idôneas, os oriundos de profissionais especializados são os indicados, ou seja sites desenvolvidos por médicos e psicólogos. Esse conhecimento será muito útil para a família, afim de saber o que esperar e como agir diante a depressão da pessoa que lhe é tão próxima, além de poder compartilhar esse conhecimento com a pessoa deprimida, que na maioria das vezes tem suas funções cognitivas (concentração, aprendizado e memória) afetadas pela depressão, e por isso não será capaz de ler esses conteúdos sem ajuda.

A família deve também oferecer conforto, ao mesmo tempo que serve como uma consciência auxiliar no teste de realidade ao paciente com depressão. Ou seja, compreender, mostrar que a pessoa não está sozinha, mas esclarecer quais são os fatos e não dar subsídios para a pessoa ceder completamente à depressão. Não adianta forçar a pessoa a sair da cama se ela não tem energia, nem forçar a pessoa a sair e conversar com todos se a pessoa quer ficar sozinha, mas é preciso abrir as portas e convidar, bem como não abrir mão de fazer as coisas porque a pessoa não quer. Conversar com o deprimido e contar as coisas dinâmicas, interessantes ou divertidas que tem vivenciado, mostrando que essa pessoa poderia ter participado e como poderia ter participado também ajuda, pois pode ser um incentivo. Muitas vezes além da pouca energia, o deprimido acredita não ser capaz de interagir com as pessoas.

Por fim, e não menos importante, a atuação da família se estende também ao tratamento médico e psicológico do deprimido, ao ponto que a família pode observar sem as influências do péssimo da depressão, os sintomas que o paciente tem apresentado e deixado de apresentar, bem como avaliar a evolução do tratamento, afim de dar um feedback a esses profissionais, para que se possa adequar bem o tratamento ao paciente.


Carolina Rezende

AVANÇOS NO TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DA DEPRESSÃO

 

    Hoje existe um amplo leque de opções em tratamento para a depressão. Existem modernos medicamentos, terapias psicológicas, eletroconvulsoterapia digital, e até cirurgia de implante cerebral! Bem diferente dos tempos dos medicamentos cheios de efeitos colaterais, dos profissionais que ainda descobriam como tratar esse transtorno, hoje não faltam meios especializados de lidar e superar esse problema de saúde mental.

  Existem medicamentos para realizar o balanceamento da serotonina, noradrenalina, dopamina, entre outros hormônios envolvidos no processo depressivo. Esses medicamentos, mais modernos, podem até eliminar os sintomas da depressão e oferecer maior qualidade de vida. Na nova geração de antidepressivos existe maior segurança e menos efeitos colaterais, o que também aumenta a aderência dos pacientes ao tratamento. É importante ressaltar que esses medicamentos não curam a depressão, apenas eliminam os sintomas e tem efeito temporário, ou seja, não são eternos os efeitos. Por isso é importante que o paciente associe o uso da medicação com psicoterapia.

    Atualmente a bioengenharia desenvolveu marca-passos cerebrais (até então utilizados no tratamento de Parkinson). Há alguns meses foi implantado o primeiro marca-passo cerebral para tratamento de depressão crônica, nos Estados Unidos, e por enquanto a experiência tem sido bem sucedida. A mulher que recebeu o equipamento descreve a experiência “como se a nuvem preta que me acompanhou por toda a vida tivesse ido embora e finalmente posso ver a vida colorida e sentir prazer, alegria e o sabor da comida”. Essa é uma tecnologia ainda experimental, mas podemos imaginar como uma luz no final do túnel para aquelas pessoas que sofrem da versão mais agressiva do transtorno.

    Certamente a melhor opção em tratamento disponível hoje é a associação de medicamentos antidepressivos e terapia psicológica. Tratar um paciente somente com um tratamento ou outro, ou seja, somente com o acompanhamento medicamentoso, ou somente com o tratamento psicológico é uma prática condenável que expõe os pacientes a riscos desnecessários, inclusive de suicídio.

    Uma opção de alívio em episódios de intensidade grave e permanência prolongada é a ECT (eletroconvulsoterapia). Vale lembrar que este é um recurso utilizado apenas quando não se consegue resultados com as medicações e terapia combinadas. É um recurso eficaz e hoje muito seguro, com equipamentos e técnica modernizada. Em clínicas especializadas a aplicação é acompanhada por uma equipe multidisciplinar e utiliza equipamentos digitais modernos. Não existem mais cenas como a do filme “Bicho de 7 cabeças" com Rodrigo Santoro, em que a utilização indiscriminada e irresponsável da ECT produz lesões cerebrais significativas. A indicação no momento correto pode evitar que uma pessoa cometa suicídio.

    No tratamento de um paciente depressivo, a participação familiar, oferecendo apoio e compreensão é essencial na redução do sofrimento da pessoa, bem como facilita a adesão ao tratamento. Posturas hostis, indiferentes e preconceituosas aumentam os sentimentos de culpa e pioram a precária autoestima dos pacientes, comprometendo a adesão ao tratamento, geralmente por exortações do tipo: “largue esse remédio, você pode superar isso com força de vontade!”. Depressão não é falta de “força de vontade”, na verdade o que não falta é vontade de superá-la logo. Os familiares e amigos podem contribuir muito oferecendo conforto, observando sintomas e evolução do tratamento (o depressivo tende a ver tudo de maneira negativa, não conseguindo perceber seus avanços significativos). Não se trata de oferecer “incentivo” ao comportamento depressivo, mas demonstrar compreensão de que a depressão é uma doença que exige tratamento médico e psicoterapêutico.


Carolina Rezende

5 de jun. de 2020

Carta às Mamães

Bem vinda à vida de mãe, é assim mesmo! Desde cedo os bebês começam a mostrar a que vieram. São geniosos mesmo, cheios de seus próprios gostos e vontades. Cada mãe escolhe como que vai moldar, se vai dar asas, aparar ou cortar kkkk. Mas seja qual for a opção, depois precisamos lidar com elas. Quando criamos as crianças cheias de independência, depois precisamos lidar com a dor de elas não nos solicitarem mais. Se criamos dependentes, precisamos conviver com desgaste de termos que fazer tudo sozinhas. Se deixamos seguirem seus próprios gostos, lidaremos com uma criança que acha que o mundo se curva às suas vontades. Se não permitimos que tenha opinião própria e apenas obedeça, teremos a angústia de ter sufocado a vontade e a criatividade....
Não existem escolhas simples, somente a necessidade de termos muita paciência, e reflexão. As vezes precisamos recuar dois ou três passos de evolução para voltarmos a evoluir, e sempre cometemos erros! Mas precisamos encontrar alguma paz nisso. Aprendermos a corrigir nossos erros sempre que possível, ou pelo menos da melhor forma possível. Aceitarmos que se cometemos erros, foi porque estávamos fazendo o nosso melhor possível, naquele momento.
Não existe super mãe, a infalível e que sabe tudo. Algumas mulheres apenas FINGEM que são, pois isso alivia outras dores e sofrimentos que elas carregam consigo mesmas. Não precisa se sentir diminuída, hostilizada ou até mesmo hostilizar essas mulheres! Entenda que elas também estão tentando fazer o melhor que podem, ou conseguem! A máscara de super mãe está ali para manter aquela mulher de pé, pois provavelmente (em 99,99% dos casos) outras partes da vida dessa mulher estão ruindo. Para nós de fora pode parecer que elas têm a vida perfeita, mas com certeza para elas mesmas existe uma frustração, um vazio que compensam assim.
Não caia na armadilha de “comparar” a evolução de filhos... sempre começa com “a minha consegue...” é uma armadilha! Caia fora! Praticamente todas as crianças irão conseguir alcançar todos os marcos evolutivos, e no final das contas não fará diferença quem andou ou falou primeiro, não é uma corrida. Cada criança tem o seu momento, e depois que chegam na fase dos 9 anos de idade nada disso mais fará sentido. Comparar desempenho acadêmico? Depois dos 22anos nada disso mais terá sentido. Então esqueça as medidas do desenvolvimento, milimetricamente fiscalizadas por mães neuróticas, e concentre-se em comemorar cada marco importante para você e seu bebê, pois assim será uma aventura e uma coleção de lembranças incríveis!!!
As avós, tias avós, são uma benção! Tem muito conhecimento de vida. Mas fazem muitos anos que elas cuidaram de bebês. Devemos ouvir o que elas têm a dizer com respeito, mas precisamos usar um filtro... Confirme as informações, se de fato podem produzir o resultado que você deseja. Não saia simplesmente fazendo tudo o que elas dizem que você deve fazer, pois isso teria o potencial de deixar você como um cego em meio ao tiroteio. Você é a mãe, é sua vez de criar, com os seus próprios erros e acertos! Aproveite da sabedoria delas, mas seja forte para impor o seu ponto de vista: é eu sei que você é forte o suficiente para isso!
As gerações de mães anteriores tiveram muito disso, de projetar as necessidades delas em seus filhos, e muitas mulheres hoje em dia sofrem nos relacionamentos com suas mães, exatamente por esse motivo... Este é um conflito de amor e frustração constante, o relacionamento pautado em expectativas e frustrações sempre terá dificuldades em encontrar o equilíbrio e a paz. Mas mesmo com todas as suas dificuldades, existe muito amor entre mãe e filha, e as duas sempre irão tentar conviver e se amar, mesmo com as dificuldades... e faz parte... dá um “sabor”... imagina se na vida tudo fossem flores? As flores seriam ordinárias e nada especiais...
Sabe... filhos devem ser criados para a vida, para o mundo, precisamos curtir tudo o que pudermos quando estão conosco. Existe toda uma nova geração de mães que procuram evitar projetar suas necessidades nos filhos (sonhos, desejos, necessidades). Nas gerações mais novas tenho percebido relacionamentos diferentes, mães que respeitam a individualidade e admiram seus filhos incondicionalmente. Oferecem a mão e o apoio, sem “tapar o sol com a peneira” pois são capazes de enxergar seus filhos exatamente como são, e oferecem respeito. É uma decisão difícil, mas creio que você, por experiência própria, sabe bem como é ter que corresponder expectativas, pois sentiu-se assim com sua própria mãe, bem como a frustração que vem com isso. Que todas nós consigamos construir relacionamentos melhores para o futuro, e se não conseguirmos, tudo bem, pois fizemos o nosso melhor.



16 de abr. de 2020

PANDEMIA, QUARENTENA, MEDO

Vivenciamos um momento que ficará marcado na história de nosso tempo. Uma mutação nova, de um vírus antigo, se alastrou pelo mundo levando consigo desestabilização, medo, incertezas, insegurança e uma mudança abrupta em toda a nossa estrutura social e cultural. Temos hoje uma gigantesca estrutura de informação, rápida e eficaz. No passado as pessoas poderiam pensar que isso seria maravilhoso e ajudaria as pessoas com tanta facilidade no acesso às informações - só que não é assim que acontece... Toda essa estrutura revelou uma convulsão sócio-cultural muito grande: existem muitas e diversas informações, que vão desde contrárias até desconexas! Existem golpes sendo anunciados de todos os lados, e em todos os sentidos, existem dados adulterados, maquiados, escondidos, e ninguém encontra a verdade. A verdade passou a ser RELATIVA (obrigada Einstein, as pessoas levaram a um novo nível a sua teoria). Até mesmo a ciência passou a ser relativa, o que diriam os filósofos gregos dessa nossa psicose coletiva hein?!
Em uma era com tanto investimento na ciência, tanta tecnologia para desenvolver pesquisas, e no entanto... a ciência tornou-se relativa às demandas de quem a anuncia. O tomate hoje faz bem, amanhã não mais, hoje vamos divulgar como verdade científica um estudo epidemiológico como extremamente verdadeiro e consistente, amanhã divulgaremos outro de mesmo teor e resultado oposto, na semana que vem publicaremos estudos conduzidos com animais com verdades absolutas, até que no ano que vem seja publicado outro estudo epidemiológico contraditório. Sabe o que é isso? Trata-se de manipulação da realidade, para noticiar o que interessa a alguém, independente dos fatos. Tais estudos de fato existem, no entanto o que ninguém explica para a população, consumidora refém desses conteúdos, é que a ciência não se lê dessa forma. Estudos científicos tem propósitos específicos, e resultados condizentes. Estudos epidemiológicos não servem para afirmar verdades, apenas servem para levantar questionamentos. Estudos em animais servem de parâmetro inicial, mas nunca se igualam em evidencia com os estudos com animais - explicando de forma simples: pelo mesmo motivo que em uma transfusão de sangue não recebemos sangue de porco ou de boi, muito menos de ratos. Porque somos diferentes, e a conclusão de um estudo com efeito para o corpo humano, só pode ser conclusivo após estudo em humanos, obedecendo o controle de varáveis (alimentação, estilo de vida, etc). O mesmo acontece com a economia, a política, as leis, a cultura, e pasmem: o senso comum.
Recebemos uma verdadeira enxurrada de notícias da hora em que acordamos, à hora que vamos dormir: notícias tão diversas que fica muito difícil discernir o que é válido/real do que não é. As pessoas aprenderam a julgar a realidade e a verdade como sendo relativa à cada um, mas o fato é que não é. O que é relativo é o PONTO DE VISTA, realidade e verdade são concretos e imutáveis: uma mesa é uma mesa, uma parede é uma parede, um fato ocorrido se desenvolveu independente das opiniões. A quantia de dinheiro que você possui não irá modificar conforme a opinião de alguém, assim como o valor de um pé de alface no mercado não mudará conforme o ponto de vista das pessoas. E sabe quem está no meio dessa loucura que acontece: você, eu, as pessoas ao nosso redor - todos nós. Não temos confiança em nosso sistema de informações, e vivemos em função de tentar descobrir qual a noticia é verdadeira, com a nossa vontade secreta de que seja aquela que mais gostamos. Na Bíblia existe um versículo muito poderoso: "e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". Sabe o que esse sistema insano de informações faz conosco: nos adoece! Vou explicar: nós temos constante necessidade de saber das coisas, de procurar pela verdade, desde os tempos das cavernas o homem busca as informações corretas (alimentos seguros, presença de predadores, local seguro para o repouso, etc). Em toda a história da humanidade o ser humano pauta seu comportamento nas informações que possui, pois elas constroem a realidade em que vivemos. Mas existe uma coisa que poucas pessoas percebem: no ser humano o instinto de sobrevivência é uma das habilidades mais fortes que possuímos. E está aqui nesse detalhe, no que há de mais forte nas pessoas, em geral - que está a questão desse momento.
O instinto de sobrevivência funciona a base dois mecanismos principais: esperança de sobreviver e medo de morrer. Mas dentre esses dois mecanismos, o que atua influenciando diretamente o nosso comportamento é o do medo. O medo é uma estrutura do comportamento que a psicologia vem estudando há décadas, e é muito interessante o seu mecanismo, pois o medo surge não diante de um perigo real e presente, mas partir da SUPOSIÇÃO da existência de algum perigo qualquer. E o medo não faz apenas com que tenhamos um comportamento precavido, o medo vai muito além pois ele sequestra o nosso sistema de crenças, e mobiliza em torno de si nossas emoções. Então perceba a importância disso: temos um instinto muito forte em cada um de nós, o da sobrevivência, que atua nos alimentando de esperança de vida, e de nos mobilizando completamente em função do medo de morte - só que esse medo que nos sequestra e mobiliza, não necessariamente precisa ser de um perigo real e presente, pode ser uma suposição infundamentada de algum perigo imaginário. Percebeu? Se ainda não, tenha mais um pouquinho de paciência, pois chegaremos lá! Vamos traduzir para o que estamos vivendo hoje:
Todos os dias recebemos enxurradas de informações. Dentre essas informações, algumas nós gostamos e nos alimentam com esperanças, outras nos causam estranheza e geram dúvidas, ou inseguranças quanto ao que conhecemos (e na insegurança - falta de segurança - já temos uma pontinha de medo surgindo), MAS temos também as notícias catastróficas, que preveem a aniquilação completa de nossas vidas. Diante essa mescla, sabe o que nossa faz? Nos alimenta com a esperança das notícias boas, nos fazendo questionar as ruins e estranhas, até as invalidando. Mas sem que tenhamos muito controle sobre isso, na forma de nos preparar  para lutar por nossa sobrevivência, alimenta descaradamente nosso MEDO - isso porque se a notícia ruim prevalecer, precisamos estar prontos para enfrentar. Não precisamos ter consciência disso, nossa mente faz esse calculo automaticamente. No entanto, notícias extremamente negativas e catastróficas, sendo repetidas continuamente produzem o efeito em cascata: ficamos tensos, preocupados, ansiosos, e então angustiados, e daí esses sentimentos se elevam e podem produzir um colapso psíquico, nos transformando em pessoas deprimidas, paranoicas, agressivas, etc... O excesso de tensão intrapsíquica é a causa comum dos surtos psicóticos, e esse momento pode sim produzir o desenvolvimento de doenças mentais graves.
Ficamos assim com um importante questionamento: o que fazer? Controlar o volume e a qualidade de informações que captamos, obviamente é o primeiro passo. Precisamos impor limites, desligar a TV, o celular, o computador se for preciso! Mas precisamos impor limites à nós mesmos, não um controle externo, mas interno -sim: retomar o controle que temos sobre nós mesmos! O passo seguinte, é estar mais em contato com a realidade e menos com o virtual: mais contato humano, olhar nos olhos, falar com pessoas envolvidas diretamente na nossa vida. Estar em contato com a nossa realidade: nosso ambiente, os objetos e o mundo ao nosso redor, sem uma tela, lente ou filtro para "moldar" ou "mostrar" -usemos nossos sentidos: visão, audição, olfato, tato e paladar (esse ultimo moderadamente) para sentir a realidade e estarmos presente em nós mesmos. Uma boa dica é a prática de mindfulness, existem milhares de aplicativos, vídeos no youtube, textos pela internet explicando o que é, como funciona, e como se faz - e por isso não explicarei aqui, faça uma pesquisa no Google sobre isso (não conta como notícia, mas como conhecimento de auto-cuidado). E se mesmo assim continuar com dificuldades, estiver ansioso, deprimido, ou com a mente presa em teorias diversas de conspiração (não estou desqualificando a veracidade, apenas a utilidade de ter isso em sua mente o angustiando), entre outras condições de sofrimento mental - não hesite em buscar a ajuda profissional de um bom psicoterapeuta, pois você pode fazer terapia online!

Para agendar sua consulta entre em contato via WhatsApp (22) 99819-7304

4 de nov. de 2018

Comportamento Alimentar, Obesidade, Compulsão Alimentar


Através da alimentação obtemos a energia e nutrição necessários para viver. Evolutivamente, nosso organismo desenvolveu diversos mecanismos, para regular fisiologicamente o nosso comportamento alimentar, conduzindo assim os estados de FOME e SACIEDADE. Sendo assim, a extensão da parede estomacal, atividade intestinal, funcionamento do fígado, produção de hormônios como insulina, leptina, grelina, colecistocinina, entre outros, atuam como reguladores de fome e saciedade. No entanto, o comportamento alimentar está muito longe de ser apenas uma função biológica do nosso corpo, sofrendo influencias emocionais, sociais e culturais, o comportamento alimentar é um mecanismo bem mais complexo.

O ato de alimentar a si e aos outros possui significados variados e importantes na subjetividade dos indivíduos. A atribuição da amamentação e do preparo de alimentos para a família constitui um fator da construção da subjetividade feminina, em todas as festividades um ponto central da reunião das pessoas é em torno do cardápio (quaresma, ceia natalina, bolos e doces de aniversário, churrasco de comemoração, almoço de dia das mães e dos pais, etc), e a alimentação ainda é influenciada por questões culturais e emocionais, pois não coemos apenas grupos alimentares: fibras, proteínas, gorduras e carboidratos, ou apenas nutrientes como vitaminas e minerais. Escolhemos nossos alimentos conforme nossas preferencias de sabor, e nas escolhas interferem a acessibilidade do alimento, a conveniência, e ainda regulamos a quantidade do que comemos conforme a fome, a vontade de comer e nosso estado de humor. Ter uma relação saudável com a alimentação é imprescindível para uma vida saudável. Não comemos apenas para sobreviver, mas desenvolvemos com a comida um relacionamento íntimo, afetivo, cultural e social. Cerca de 90% de nosso funcionamento cerebral é emocional, por isso precisamos entender e valorizar a interferência dos nossos componentes emocionais em tudo o que fazemos, negar a predominância emocional de nosso funcionamento cerebral, exaltando nossa racionalidade é a primeira armadilha para boicotarmos nossa saúde mental, e reduzirmos a nossa capacidade intelectiva. Por outro lado, aprendermos a lidar com nossas emoções, desenvolvendo habilidades afetivas nas diversas áreas de nossa vida é essencial para obtermos sucesso em tudo o quanto pretendemos.

Para a OMS saúde é um estado de bem estar Bio Psico Social, onde o ser humano é visto não apenas como um organismo físico, mas englobando suas complexas formações psíquicas e sociais. Em discussões sobre o que seria normal (saudável), e o que seria patológico, o célebre Canguilhem relativizou, mostrando que saudável vai muito além do que um julgamento pré-estabelecido, e nos mostrou que uma pessoa é saudável não apenas na ausência de doenças, mas também quando essa pessoa percebe-se normal. Dessa forma compreendemos que a saúde psíquica, depende diretamente da influência marcante da autoimagem que construímos de nós mesmos como pessoas quanto indivíduo e quanto ser social. Os transtornos psíquicos geralmente nascem de problemas na construção dessa nossa autoimagem.

O CID-10 (10ª edição da Classificação Internacional das Doenças da OMS) dedica a categoria F50 aos transtornos alimentares, que são a alteração dos comportamentos alimentares associados a perturbações psicológicas. Nessa categoria são descritos os parâmetros diagnósticos para anorexia, bulimia, Hiperfagia, e outros transtornos alimentares não especificados. Devido a relevância estatística do grande número de pessoas afetadas pela obesidade no mundo hoje, nesse texto falaremos da Hiperfagia, também conhecida como compulsão alimentar, vício em comida, glutonaria, etc. A Hiperfagia é comportamento de comer excessivamente, existindo variações do padrão desse comportamento, que pode ser episódico, constante ou variado, conforme a reação da pessoa a eventos emocionais. A Hiperfagia leva à obesidade, e a obesidade por sua vez pode levar o indivíduo a desenvolver baixa autoestima e perda de confiança nos relacionamentos pessoais, tornando-se causa de outras perturbações psicológicas como depressão, ansiedade, fobia social, neuroses, etc.

Vivemos hoje no mundo um verdadeiro surto de obesidade, fruto de uma complexa realidade que vem se construindo ao longo das últimas décadas: falha nas diretrizes alimentares oficias, excesso de oferta de alimentos fast food, mudanças nos padrões comportamentais de alimentação e atividades físicas, mudança nos padrões de comportamento social e familiar em que homens e mulheres abraçam o mercado de trabalho e o cuidado com os alimentos da família passam a ser atribuídos à indústria alimentar, entre muitos outros fatores envolvidos. Pesquisadores de Harvard, em um estudo epidemiológico ao longo de 20 anos, com mais de 12mil indivíduos, detectaram uma tendência de padrões comportamentais serem regulados pelas pessoas afetivamente próximas. Assim pessoas que tendem a não se exercitar e comer de forma exagerada, influenciam as pessoas de sua convivência, assim como o oposto também ocorre. Dessa mesma forma o ambiente é influenciado e influencia o comportamento das pessoas, pois em lugares onde as pessoas tem uma maior demanda por fast food, existe uma tendência a existir grande oferta de estabelecimentos que ofertem esse tipo de alimento, reduzindo proporcionalmente a existência de estabelecimentos onde se oferece alimentos mais naturais e saudáveis, reduzindo por consequência a oferta de opções saudáveis de alimentos. Vemos assim, que o surto de obesidade não se deve apenas ao comportamento alimentar isolado de uma pessoa, mas a um conjunto de fatores que vem sendo construídos há décadas, construindo todo um paradigma de vida do qual precisamos refletir e começar a interferir como agentes de mudança, afim de construirmos um futuro onde as pessoas tenham mais saúde, no conceito amplo da palavra. Dessa forma podemos considerar uma perspectiva holística da compulsão alimentar, e entender que ela influencia e é influenciada não só na subjetividade psíquica, mas também nos espaços sociais, e por isso tornou-se um importante fator de saúde pública, que no entanto é pouco abordada.

Muitos acreditam que Compulsão Alimentar consiste apenas em episódios, assim como a bulimia, mas sem os comportamentos expurgatórios de compensação (vômito, uso de laxantes e diuréticos, etc). No entanto a hiperfagia é bem mais ampla e complexa. Indivíduos com compulsão alimentar tendem a comer excessivamente, seja de forma constante, seja de forma episódica, e até mesmo havendo variações entre esses padrões e períodos de dieta. Ao comportamento de comer excessivamente existe a associação emocional, conforme a ocorrência de eventos estressores a pessoa pode vir a comer ainda mais que o normal, apenas parando mediante mal estar por empanturramento. Em alguns casos a pessoa não demonstra vergonha por sua hiperalimentação, mas em outros casos isso pode acontecer, levando a pessoa a comer escondido. Por conta da obesidade muitos tentam diversas vezes empreender dietas, seja por necessidades de saúde, seja por vaidade. No entanto essas dietas raramente são capazes de auxiliar, visto que diante estressores emocionais os gatilhos da compulsão podem ser ativados, levando a pessoa a voltar aos episódios ou mesmo perder a aderência da dieta, formando um verdadeiro ciclo vicioso:


*O estresse me desestabiliza emocionalmente *Como demais *Engordo *Me sinto mal por estar gordo *Quero emagrecer *Inicio uma dieta restritiva *A restrição me causa estresse *O estresse me desestabiliza emocionalmente *Como demais... 

O tratamento da compulsão alimentar visa inicialmente reduzir a compulsividade alimentar, trabalhando as habilidades emocionais do paciente. Nos protocolos de Terapia Cognitivo Comportamental prevê-se treino em solução de problemas, treino de habilidades sociais, desenvolvimento de habilidades de automonitoria e de relaxamento. Nos protocolos psicoterápicos, é enfatizado que a dieta tradicional, por gerar muita restrição, gera frustração e por fim compulsão, não sendo possível conciliar dietas tradicionais com terapia, gerando outro conflito, pois se o paciente durante a terapia não consegue emagrecer continua sentindo-se mal com sua autoimagem, impedindo assim avanços significativos na terapia. Essa questão torna-se cíclica por fim, pois se faz dieta sem terapia, não trabalha seus estressores que provocam a compulsão e portanto não consegue ter aderência suficiente para a dieta fazer o efeito pretendido, mas se faz terapia sem dieta, por não estar emagrecendo não consegue mudar sua autopercepção. Nesse contexto a Terapia Cognitivo Comportamental inclui em seus protocolos a possibilidade de dietas pouco restritivas, associados a um trabalho de orientação nutricional que dê ao paciente consciência de como seu corpo interage com os alimentos, bem como o desenvolvimento de um repertório comportamental que leve a pessoa a mudar a forma como se alimenta. Bernard Rangé sugere os seguintes comportamentos, para uma relação mais saudável com a alimentação:

1)Alimentar-se apenas em lugar especifico para esse fim.

2)Quando estiver se alimentando não fazer outras coisas simultaneamente.

3)Deixar um pouco de comida no prato ao final das refeições.

4)Em vez de comer para se acalmar, apenas comer quando sentir FOME.

5)Comer lentamente, desenvolvendo a habilidade de perceber a saciedade.

6)Prestar mais atenção aos indicadores fisiológicos de FOME e SACIEDADE.

7)Reduzir a disponibilidade de alimentos quando se está comendo, guardando a comida excedente.

8)Não ter alimentos prontos para consumo, para que tenha que preparar cada refeição.


1)Alimentar-se apenas em lugar especifico para esse fim.

2)Quando estiver se alimentando não fazer outras coisas simultaneamente.

3)Deixar um pouco de comida no prato ao final das refeições.

4)Em vez de comer para se acalmar, apenas comer quando sentir FOME.

5)Comer lentamente, desenvolvendo a habilidade de perceber a saciedade.

6)Prestar mais atenção aos indicadores fisiológicos de FOME e SACIEDADE.

7)Reduzir a disponibilidade de alimentos quando se está comendo, guardando a comida excedente.
8)Não ter alimentos prontos para consumo, para que tenha que preparar cada refeição.

17 de jan. de 2017

Pânico

Há algum tempo Rafa estava no cinema quando teve a sua primeira crise, em que sentiu um enorme desconforto, aceleração dos batimentos cardíacos, tremores, dor no peito, falta de ar e enjoo. Nesse dia sentiu que poderia morrer e acreditou estar tendo um infarto e que precisava sair dali e ir para o hospital imediatamente. No hospital após ter realizado os exames, foi constatado que sua saúde estava em boas condições, não havendo explicação física para o quadro sintomático relatado. Depois desse dia começou a ter repetidas crises, em diferentes lugares e situações, a principio sem qualquer motivo. As crises normalmente incluíam aceleração dos batimentos cardíacos, falta de ar, tontura e tremores. Em todas as vezes Rafa acreditava que poderia morrer ou enlouquecer, pois seus sentimentos eram bem intensos, entretanto os exames não encontravam nenhum problema físico em corpo. Após cada crise  o medo de ter novas crises só aumentava, fazendo com que Rafa se afastasse de seu convívio social, evitasse lugares públicos por medo de se envergonhar tendo uma crise na frente das pessoas, ao mesmo tempo evitando estar sem companhia por medo de ter uma crise sem ter ninguém para lhe socorrer. A vida de Rafa se resumia a tentar evitar uma nova crise, mesmo sem conseguir.
Rafa é apenas uma personagem imaginária, mas existem muitas outras pessoas que podem estar passando por uma situação bem parecida, sem conseguir compreender o que acontece consigo. O que acontece com nossa personagem fictícia é conhecido como "ataque de pânico", que quando ocorre diversas vezes podemos chamar de transtorno do pânico. Esses episódios são tão intensos que a pessoa começa a sentir medo que se repitam, e para evitar isso tomam diversas medidas como não ficar sozinha, evitar determinados lugares e situações. Com todas as medidas para evitar um novo ataque, a pessoa começa ter graves prejuízos na vida social, familiar, profissional e até amorosa. Entretanto, apesar das muitas restrições que a pessoa pode se impor, as crises sempre acontecem novamente, muitas vezes. Mediante essa situação as pessoas normalmente  iniciam uma peregrinação entre emergências de hospital e médicos especialistas de outras áreas, até que o paciente finalmente chegue a um consultório de terapia cognitivo comportamental e receba a informação de que na verdade o seu problema é conhecido e comum, se chama Transtorno do Pânico e tem tratamento.
A perturbação gerada envolve repentinas crises, que tendem a se tornar mais fortes a cada episódio. Cada ataque de pânico desencadeia reações como aceleração dos batimentos cardíacos, sensação de falta de ar, tremores, transpiração excessiva, tonteiras, vertigens, sensação de desmaio, náusea, pernas bambas, formigamentos. Além dessas sensações, durante as crises a pessoa tem a mente inundada com pensamentos muito intensos de que pode estar tendo um ataque cardíaco, que pode vir a morrer ou enlouquecer devido esse ataque. Esses episódios são realmente intensos e podem chegar a ser incapacitantes, o que explica o motivo da pessoa tentar de todas as formas não passar por isso novamente. No entanto, quanto mais a pessoa se esquiva de possíveis situações causadoras do problema, mais prejudicada a vida funcional dessa pessoa fica, e como consequência novas crises, mais intensas e mais frequentes surgem.
O transtorno do pânico é um entre tantos outros problemas relacionados aos transtornos do humor ansioso, que pode melhorar e a pessoa reaver seu equilíbrio e saúde mental através do tratamento adequado.
Atualmente o tratamento para pânico envolve acompanhamento medicamentoso com médico psiquiatra, e acompanhamento psicoterapêutico com psicólogo.
O tratamento medicamentoso irá auxiliar na redução dos sintomas físicos como aceleração cardíaca, dificuldades com a respiração, etc, permitindo que  a pessoa experimente o alívio das crises. É muito importante reforçar que as medicações irão suavizar os sintomas, mas que não são suficientes para lidar e superar o transtorno do panico ao ponto de não precisar mais de tratamento. Para isso acontecer é preciso o tratamento combinado de medicamentos com psicoterapia.
A psicoterapia já é um processo  bem diferente, e depende muito da afinidade do paciente com o terapeuta, bem como do engajamento do paciente em seu tratamento. Muitas pesquisas indicam que a abordagem terapêutica cognitivo comportamental apresenta maior eficiência em menor espaço de tempo. É uma indicação de modalidade terapêutica, que tem sido muito divulgada e sugerida, entretanto é importante ressaltar que todas os processos terapêuticos são benéficos, desde que haja engajamento do paciente.
Para superar o pânico é importante que a pessoa busque o tratamento com profissionais com quem se sinta segura e confortável, e que mantenha o tratamento conforme a orientação dos profissionais escolhidos.

13 de set. de 2016

Dificuldades de aprendizagem

As crianças e jovens de hoje recebem muitos estímulos e ao mesmo tempo muitas responsabilidades, pois a escola nunca foi tão exigente aos alunos quanto hoje em dia. A tolerância ao diferente, ao tempo de cada um para o aprendizado, as formas diferentes como cada criança aprende e desenvolve tem desaparecido. O que tenho observado é que as escolas trabalham com moldes prontos (crianças quietas, sentadas, e que aprendem no mesmo tempo e de forma igual), mas se uma criança não se encaixa nesse molde ela é classificada como "diferente" e colocada de lado, a escola devolve a responsabilidade para os pais e indica que procurem um médico afim de "resolver os problemas" desse aluno, que seria no caso dar algum remédio mágico q coloque a criança dentro dos moldes. Algumas escolas ainda se antecipam dizendo que o aluno provavelmente é portador de Déficit de Atenção e ou Hiperatividade. Aliás esse acabou se tornando o diagnóstico padrão sempre q uma criança demonstra dificuldades na escola.
Até mesmo porque o diagnóstico dos distúrbios do aprendizado não é através do e exames laboratoriais, mas sim avaliação clínica, e pelo quadro apresentado pelas famílias, muitos médicos acabam confirmando esse diagnóstico "padrão" e já iniciam o tratamento... O problema é que esses tratamentos sao realizados com medicamentos psicoativos, que quando empregados nos casos corretos são ótimos e promovem saúde, mas quando um paciente com ansiedade recebe o tratamento para hiperatividade, a resposta ao tratamento será péssima, levando o médico a associar outras medicações, ou a família a descrença no tratamento, e ambas as opções são ruins para a criança!
Ocorre que nem sempre (aliás quase nunca) esse diagnóstico está correto! Existem muitas possibilidades quando uma criança não está conseguindo aprender, podendo ser um transtorno do humor como ansiedade ou depressão, ou mesmo outras dificuldades de aprendizado como dislexia, transtornos invasivos do desenvolvimento, entre muitas outras possibilidades. 
Existe para isso um procedimento realizados por alguns psicólogos, que se chama avaliação neuropsicológica, que é o procedimento diagnóstico mais completo que existe hoje para dificuldades de aprendizado e memória, e quando realizado completo, com todos os testes necessários, irá possibilitar encontrar as reais respostas a esse problema de aprendizado da criança. Por isso, se seu filho, e/ou aluno, está com dificuldade de aprendizado, solicite inicialmente uma avaliação neuropsicológica, para primeiro descobrir o que há de fato com a criança, e a partir dessa informação será possível ao médico e aos demais profissionais da saúde saberem do que realmente sua criança precisa para superar suas dificuldades.